O Credo Apostólico: uma Confissão de Fé

Tema: ESTUDO BÍBLICO


I Timóteo 6.12,13
-Introdução: Você saberia fazer uma declaração das doutrinas ou daquilo que acredita? O apóstolo Paulo diz para o jovem Timóteo que deve fazer uma “boa confissão” a respeito de sua fé, dizendo que o próprio Jesus também afirmou sua fé diante de Pilatos. Isso nos ensina que precisamos entender e saber explicar sobre o que cremos (I Pedro 3.15).
Muitos cristãos evangélicos não gostam do Credo Apostólico por atribuírem seu uso aos católicos, mas o Credo Apostólico é um dos textos mais antigos do cristianismo, anterior ao catolicismo em si. Podemos conferir as expressões do texto do Credo Apostólico com as Escrituras e ver se estão de acordo com a sã doutrina cristã (Tito 2.1).

Qual o significado do Credo Apostólico?

Vamos estudar a respeito do texto do Credo Apostólico e meditar em suas palavras:

O que é o Credo Apostólico?

A palavra ‘credo’ significa ‘creio’, como de comum nos tempos antigos os textos tinham por nome sua primeira palavra. É apostólico por ter sido atribuído aos apóstolos e muito mais do que isso, porque está de acordo com a doutrina dos apóstolos.

História do Credo Apostólico

O credo que conhecemos foi sendo composto com o tempo, por volta do século II1, começando com suas primeiras frases até no Concílio de Nicéia em 325 d.C. se concluiu sobre a Doutrina da Trindade que inspirou a base doutrinária presente no Credo que foi considerado completo no concílio de Constantinopla em 381 d.C.

Justificativa do Credo Apostólico

O objetivo de ter um Credo ou afirmação de fé seria resumir a doutrina cristã em um texto que pudesse ser entendido por todos e proteger contra heresias ou novos ensinamentos2. Por isso os apologistas, ou defensores da fé cristã se basearam no texto do credo para combater falsos ensinos ou influências externas ao cristianismo.
O povo de Deus tinha suas confissões de fé como no Antigo Testamento o Shemá (ouve) que os judeus usam até os dias atuais repetindo três vezes ao dia (Deuteronômio 6.4-9; 11.13-21 e Números 15.37-41). No Novo Testamento encontramos várias declarações de fé como as referências à “doutrina dos apóstolos” (Atos 2.42), as declarações de que “Jesus Cristo é o Senhor” (Filipenses 2.11) e “Jesus Cristo Filho de Deus” (Atos 8.37, Mateus 16.16) como diversas outras, eram usadas como expressões da fé cristã.
Toda igreja séria tem uma base doutrinária onde norteia seus ensinamentos. A Reforma Protestante aboliu ensinamentos externos à Bíblia e manteve princípios originados na era apostólica pelos Pais da Igreja3.

Uso do Credo

O credo era usado como uma confissão de fé. Os mártires eram interrogados sobre sua fé antes de serem torturados e mortos, então muitos deles recitavam esta afirmação de fé que era uma confissão condenatória diante dos algozes (Apocalipse 2.13).

Basicamente o Credo era usado de duas formas:
a) DOUTRINÁRIA: Como uma poesia onde se continha o conteúdo da doutrina cristã de forma resumida que os fiéis poderiam recitar declarando sua fé. Era usado como roteiro de estudo doutrinário de novos convertidos, sendo material didático para o ensino pedagógico das doutrinas cristãs. Várias expressões presentes no Credo são respostas a heresias que surgiram como de que Maria não era virgem ou que Jesus não teria ressuscitado.
b) LITÚRGICA: No momento de sua profissão de fé e batismo o novo convertido, que havia aprendido com o Credo, sobre sua fé, declarava o mesmo afirmando o que crê (Romanos 10.9). Com o tempo a Igreja adotou o texto do Credo como afirmação de fé nos cultos como na Santa Ceia.

OBSERVAÇÃO: Não recomendamos o uso do credo em cultos como uma forma de reza. Mas cada igreja e seu pastor tem a sua recomendação a respeito, o que deve ser respeitado. Enfatizamos aqui o significado doutrinário das palavras do texto original do Credo Apostólico.

O texto do Credo

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,
Criador dos céus e da terra;
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor;
O qual foi concebido por obra do Espírito Santo;
Nasceu da virgem, Maria;
Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos;
Foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades *
E ao terceiro dia, ressurgiu dos mortos;
Subiu ao céu e está assentado à destra de Deus Pai, Todo-Poderoso,
de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos;
Creio no Espírito Santo,
Na Santa Igreja Católica,**
Na comunhão dos santos,
Na remissão dos pecados,
Na ressurreição do corpo
E na vida eterna. Amém.

Variações do Credo

* “desceu ao Hades” ou à “mansão dos mortos”: muitas igrejas adotam a versão tradicional que contém a afirmação de que Jesus foi ao inferno tomar as chaves da morte (I Pedro 3.18-22 e Apocalipse 1.18). A inserção deste trecho no Credo foi nos séculos V e VI.
** “santa Igreja Católica” ou “igreja universal”: essa parte não é original, foi acrescentada posteriormente, por isso, no meio protestante usamos apenas “igreja de Cristo” para não se confundir com a Igreja Católica Romana.

As duas variações acima foram incluídas depois de muito tempo pela Igreja Católica e não são aceitos pelos protestantes.

O Formato do Credo

Por muito tempo foi contada uma lenda de que os doze apóstolos compuseram o credo, cada um contribuindo com uma frase, mas na verdade o Credo é Apostólico por estar de acordo com a doutrina dos apóstolos (Atos 2.42) e não por ter sido composto por eles.
O texto do credo tem doze partes muito claras, como doze afirmações de fé. Mas podemos também perceber que seu conteúdo é trinitário, ou seja, contém três blocos iniciados pela expressão “Creio” se referindo às três pessoas da Trindade e às três maiores obras Divinas: criação, salvação e santificação.

Vejamos o Credo em três blocos:

1º A Criação:
Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.

2º - A Salvação:
E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor,
o qual foi concebido pelo Espírito Santo,
nasceu da virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
ressuscitou no terceiro dia,
subiu ao céu,
e está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso,
de onde virá para julgar os vivos e os mortos.

3º - A Santificação:
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja de Cristo,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo
e na vida eterna. Amém.

A primeira Parte do Credo afirma a fé no Deus Criador, a segunda fala sobre a obra salvífica de Cristo e a terceira sobre o poder do Espírito Santo sobre a vida do cristão.

Vamos analisar cada uma das doze frases do Credo e conferir com referências bíblicas:
1. Creio em Deus Pai Todo-poderoso, o Criador dos céus e da terra (Gênesis 17.1 e I Pedro 1.2).
     Afirmação de que tudo o que existe foi criado por Deus. Uma base para a doutrina criacionista.
2. E em Jesus Cristo, o seu único Filho, o nosso Senhor (João 3.16 e II João 1.3);
     Jesus Cristo é o Filho de Deus, unigênito, pois não existe outro igual.
3. que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria (Mateus 1.20);
     Declaração de que o nascimento virginal de Jesus foi conforme a profecia (Isaías 7.14). Este argumento foi incluído no Credo como resposta a heresias que diziam que Jesus não nasceu de forma milagrosa através de uma virgem, mas que seria um filho normal de José e Maria4. O fato de reconhecer a virgindade de Maria até o nascimento de Cristo não significa idolatrá-la como santa nem mesmo negar que teve filhos após o nascimento de Jesus (Mateus 1.25 e Marcos 6.3).
4. padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado (Lucas 3.1 e 23.1-25);
     Este dado foi incluído para marcar a data, ou período, visto que não existiam calendários. Era costume associar tempos ou épocas aos governantes em exercício.
5. e ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos (Marcos 9.31);
     Também para confirmar a doutrina da ressurreição de Cristo que também sofreu vários ataques de grupos Gnósticos que deturpava o surgimento de Cristo ressurreto em corpo dizendo que teria aparecido apenas em espírito 5.
6. subiu ao céu e está assentado a direita de Deus Pai Todo-poderoso (Atos 1.10 e Hebreus 1.3);
O poder de Cristo ressurreto sobre todas as coisas assumindo sua Divindade.
7. de onde virá para julgar os vivos e os mortos (Mateus 25.31-46 e II Timóteo 4.1).
     Jesus como supremo juiz de todos os seres humanos em todos os tempos.
8. Creio no Espírito Santo (João 14.26);
     A fé na pessoa do Espírito Santo como sustentador da igreja e de todos os cristãos.
9. na santa Igreja de Cristo, na comunhão dos santos (I Coríntios 10.16 e 12.27);
A Igreja como Corpo de Cristo, representando a presença Divina na terra como agentes do Reino de Deus.
10. no perdão dos pecados (I João 1.7-9);
     O perdão de Deus para todos os pecadores.
11. na ressurreição do corpo (Filipenses 3.10,11);
     A crença na ressurreição é reafirmada combatendo heresias gnósticas de que não é necessário reviver o corpo5.
12. e na vida eterna. Amém. (João 6.46).
     A vida além da morte, ou a eternidade para todo o sempre para aqueles que serão salvos.

Você precisa entender o que acredita?

CONCLUSÃO

O credo não deve ser usado como uma ‘reza’ (Mateus 6.7), mas pode ser tido como um texto histórico que condensa toda a doutrina cristã e pode ser usado como base para estudo, bem como também pode ser recitado com propósito de memorização destas doutrinas em reuniões onde se deseja declarar pura fé do cristianismo.
Não existe nenhum valor místico no Credo Apostólico como uma crendice de que se pressentir qualquer mal, rezar o credo que teria poderes protetores.
O principal objetivo de estudar o texto do Credo Apostólico em conformidade com a Bíblia é porque precisamos resgatar a pureza e firmeza da fé cristã e reformar novamente a Igreja voltando ao seu princípio como a Igreja Primitiva6. Se queremos resgatar as doutrinas cristãs primitivas, os doze artigos do Credo Apostólico podem ser uma base sólida para o estudo. 
Existem igrejas que formulam sua própria declaração de fé, o que é muito positivo e útil para definir suas doutrinas.

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1 MANZANARES, Cesar Vidal. Dicionário de patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. Página 74.
2 RODRIGUES, Welfany Nolasco. A Evangelização na Igreja Primitiva. Belo Horizonte: Filhos da Graça, 2015. Página 27.
3 LUTERO, Martinho. Do cativeiro babilônico da Igreja. São Leopoldo-RS: Sinodal,. 1982. 142p.
4 RODRIGUES, Welfany Nolasco. A Evangelização na Igreja Primitiva. Belo Horizonte: Filhos da Graça, 2015. Páginas 21, 23 e 47.
5 MANZANARES, Cesar Vidal. Dicionário de patrística. Aparecida: Editora Santuário, 1995. Página 113.
6 SPENER, Phillip Jacob. Mudança para o Futuro: Pia Desideria. Curitiba e São Bernardo do Campo: Encontrão Editora e IEPG Ciências da Religião, 1996.

Rev. Welfany Nolasco Rodrigues

Pastor Metodista, professor e escritor. 44 anos. Casado com Ássima, pai de Heitor e Hadassa. Natural de Muriaé MG. Bacharel em Teologia pela UMESP.

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