Estupro: o que a Bíblia diz?

Tema: ESTUDO BÍBLICO  

uma sombra de mão num vidro embaçado

Deuteronômio 22.25 “Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela”.
Introdução: A Bíblia condena o estupro claramente, embora a palavra não apareça desta forma no texto, mas sim as expressões forçar e abusar. Infelizmente este fato sempre fez parte da história humana. Mas por que a Bíblia fala de estupro? Certamente como uma forma de denúncia, mostrando as consequências e ensinando que o mesmo não é o padrão Divino para as relações humanas. A Bíblia não esconde os pecados humanos e por isso também fala dos crimes cometidos pelas pessoas, como o estupro e tantos outros.
Toda forma de violação do corpo para efeito sexual é considerada estupro. O sexo foi criado por Deus para o homem e a mulher como fruto do seu amor voluntário um pelo outro.

O que a Bíblia diz sobre estupro?

Neste estudo vamos abordar fatos relativos ao estupro nas Escrituras, mostrando as implicações deste ato segundo o ensino bíblico:

1- Casos de estupro na Bíblia

Histórias de estupros narrados pelas Escrituras:

Homens de Sodoma intentam contra anjos: Gênesis 19.1-11

Anjos de Deus foram a Sodoma e quando entraram na casa de Ló, os homens de Sodoma foram até lá para abusar deles. A forma como o texto descreve o fato demonstra que era algo comum para aquelas pessoas e o próprio Ló parece ter conhecimento desta prática da região e por isso oferece suas filhas (Gênesis 19.7,8). Os anjos não permitem, fecham a porta e fazem com que aqueles homens fiquem cegos (Gênesis 19.10,11). Esta foi uma tentativa de abuso homossexual, que não se consumou por uma intervenção Divina, mas que revela as práticas do povo de Sodoma, que culturalmente aceitavam o estupro como algo comum.

As filhas de Ló abusam do próprio pai: Gênesis 19.30-38

Após saírem de Sodoma, vendo-a em chamas, Ló e suas duas filhas ficaram em uma caverna e as moças, pois a esposa de Ló havia se transformado numa estátua de sal (Gênesis 19.26). As duas filhas de Ló ficaram preocupadas em não conseguir um marido e ter filhos para continuar sua geração, possivelmente pensando que todos os homens do mundo haviam morrido na catástrofe. Estas duas moças tinham vivido em Sodoma por vários anos e aprenderam vários costumes da terra. Resolveram embebedar seu pai com vinho para se deitarem com ele em duas noites seguidas, uma por vez, sem que o pai soubesse. Parece estranho um homem ser estuprado por mulheres, mas é o que a história diz, deixando claro que Ló não sabia de nada e provavelmente que não consentiria conscientemente, por isso, configura um abuso sexual.

Siquém estupra Diná: Gênesis 34.1,2

A filha de Jacó, chamada Diná, quando passeava visitando amigas, foi forçada por um jovem chamado Siquém, que assumiu o fato e pediu seu pai para se casar com ela (Gênesis 34.3,4) e seu pai foi pedir Jacó que lhe concedesse Diná para seu filho (Gênesis 34.5-10). Quando os irmãos de Diná souberam o que aconteceu ficaram irados e tramaram uma vingança pedindo que todos fossem circuncidados (Gênesis 34.13-24). Quando os homens da família de Siquém estavam com dores e efeitos da circuncisão, Simeão e Levi, irmãos de Diná, fizeram uma emboscada e mataram todos os homens da terra, levando seus bens, criações, filhos e mulheres cativas (Gênesis 34.25-29). Este fato entristeceu muito o patriarca Jacó, deixando claro que não concordava com o fato de seus filhos repetirem o mesmo erro de Siquém, ao tomar as mulheres, além de agir de forma mais odiosa ainda (Gênesis 34.30).

Israelitas tomam as mulheres midianitas: Números 31.1-18

Após uma vitória em batalha contra os seus inimigos midianitas os soldados de Israel tomam os pertences, criações e mulheres como prisioneiras (Números 31.7-12). Tomar os bens e mulheres era um costume das guerras da época. Quando Moisés soube do fato, reprovou imediatamente ordenando que somente as virgens deveriam sobreviver e ser tomadas pelos homens de Israel (Números 31.13-18). Este fato descreve o hábito das guerras na época e deixar as donzelas sobreviver era considerado um ato de misericórdia. Este ainda é o tempo da lei e os filhos de Israel traziam consigo práticas de quando eram escravos egípcios, bem como as influências de povos da região, que posteriormente é condenado pelas Escrituras.

Gibeonitas estupram a concubina do levita: Juízes 19.1-30

Esta é uma das histórias mais horríveis narradas pela Bíblia. Um levita em viagem com sua concubina (segunda esposa), se hospeda na casa de um senhor na terra de Gibeá e os homens daquele lugar vão até a casa onde estavam e pedem para abusar do levita, mas o dono da casa não deixou e colocou para fora a concubina do levita que foi abusada pelos homens de Gibeá até a morte (Juízes 19.22-27). Por causa disso o levita levou a concubina para casa e partiu o corpo dela em doze partes enviando as mesmas para as doze tribos de Israel como um ato de denúncia pelo que aconteceu com a mulher (Juízes 19.28-30). O final desta história foi um guerra das tribos de Israel contra os benjamitas e o povo de Gibeá, no intuito de vingar o crime que cometeram (Juízes 20.1-48).

Benjamitas tomam donzelas para se casar: Juízes 21.1-25

Por causa do estupro da concubina do levita pelo povo de Gibeá, resultando numa guerra sangrenta contra os benjamitas, o povo de Israel jurou não dar suas filhas em casamento aos homens de Benjamim (Juízes 21.1), o que seria necessário para reconstrução da tribo dizimada (Juízes 21.6). Então as outras tribos decidiram corrigir isso através de uma guerra contra Jabes-Gileade por não ter ido guerrear contra Gibeá, por isso mataram todos os homens, deixando somente quatrocentas donzelas de Jabes-Gileade para serem tomadas pelos sobreviventes benjamitas (Juízes 21.8-12). Como não foi suficiente para atender aos homens benjamitas, o povo resolveu orientar que os homens de Benjamim raptassem moças para se casar, durante as festas anuais em Siló, onde as famílias subiam para celebrações ao Senhor (Juízes 21.14-24). Os mesmos benjamitas que estupraram a concubina, continuaram com esta prática. O texto de Juízes termina deixando claro que “naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (Juízes 21.25). Isso revela que tanto o autor do texto como o próprio Deus desaprovam estas práticas.

Davi toma Bate-Seba: II Samuel 11.1-5

Bate-Seba era casada com o soldado Urias e Davi, mesmo sabendo disso mandou mensageiros busca-la para se deitar com ela. Muitos podem pensar que Bate-Seba teria se exibido para Davi e que ficou com ele voluntariamente, mas esta é uma ótica machista. Imagine uma mulher, sem o esposo, que estava para a guerra, receber a intimação de um rei por meio de seus soldados. Ela não teve escolha, por mais que ficar com um rei poderia parecer atraente para qualquer mulher. A crueldade de Davi neste momento é comprovada por sua trama com mentiras, traição e assassinato contra o Urias, marido de Bate-Seba (II Samuel 11.6-21). Depois Davi se casou com Bate-Seba (II Samuel 11.26,27). Este fato foi severamente condenado por Deus através do profeta Natã que repreendeu o rei Davi (II Samuel 12.1-14) e a consequência foi a morte da criança gerada nesta relação (II Samuel 12.15-19).

Amnom estupra sua irmã Tamar: II Samuel 13.1-19

De forma premeditada o príncipe Amnom se fingiu de doente para atrair sua meia-irmã, a princesa Tamar à sua casa, onde a forçou a ter relações com ele e depois a desprezou sem assumir seu erro. O rei Davi, pai dos dois jovens se irritou com o fato, mas não tomou uma medida corretiva (II Samuel 13.21). O outro príncipe e irmão, chamado Absalão ficou com ódio de Amnon e tramou uma vingança, matando o estuprador (II Samuel 13.22-32). Este é um caso de estupro na família e com consequências desastrosas.

Estas histórias, por piores que sejam, demonstram que a Bíblia não esconde os pecados das pessoas, mas denuncia o mal, revelando suas consequências.
O estupro é algo que desagrada a Deus!

2- O que a Bíblia diz sobre estupro

Textos bíblicos que se referem ao estupro:

Sobre relações durante a menstruação

Levítico 18.19 “Não te chegarás à mulher, para lhe descobrir a nudez, durante a sua menstruação.”
Segundo os conceitos cerimoniais da época, toda pessoa que tocasse algo com sangue estaria contaminada, bem como a pessoa com sangramento (Levítico 15.19-23). Por isso nenhum homem deveria ter relações com mulher durante a sua menstruação (Levítico 15.24). Mas esta era também uma lei para defesa da mulher, sendo a menstruação considerada uma fase de fragilidade para a mesma e por isso não deveria ter relações (Ezequiel 22.10), sendo considerado um tipo de estupro. Durante a menstruação a vagina pode ficar irritada ou sensível, ter menos lubrificação e por isso o ato sexual se torna forçado. Isso caracteriza que toda relação forçada pode se considerar um tipo de estupro. Esta lei traz o assunto para dentro do casamento, mostrando que o sexo precisa de consentimento de ambas as partes, defendendo as mulheres durante as fases e após o parto.

Sobre tomar mulher prisioneira

Deuteronômio 21.10-14 “Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o Senhor, teu Deus, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares cativos, e vires entre eles uma mulher formosa, e te afeiçoares a ela, e a quiseres tomar por mulher, então, a levarás para casa, e ela rapará a cabeça, e cortará as unhas, e despirá o vestido do seu cativeiro, e ficará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe durante um mês. Depois disto, a tomarás; tu serás seu marido, e ela, tua mulher. E, se não te agradares dela, deixá-la-ás ir à sua própria vontade; porém, de nenhuma sorte, a venderás por dinheiro, nem a tratarás mal, pois a tens humilhado”.
Este texto regulamenta o costume da época durante as guerras, de tomar as mulheres dos povos estrangeiros derrotados. Como eles estavam inevitavelmente em guerra, a lei procurou dar a estas mulheres o direito do luto por seus familiares e sobreviver com dignidade. O texto é protetivo quanto a estas mulheres, que após uma guerra teriam a chance de reconstruir suas vidas e os homens de Israel teriam que assumir as responsabilidades. Contudo isso não isenta de ser uma forma involuntária em que as mulheres eram tomadas, pois naquele tempo as escravas e estrangeiras prisioneiras de guerra eram possuídas pelos povos vencedores.

Sobre o estupro de moça comprometida

Deuteronômio 22.25-27 “Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela; à moça não farás nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim também é este caso. Pois a achou no campo; a moça desposada gritou, e não houve quem a livrasse”.
Esta é uma lei voltada internamente para o povo de Israel, quando uma moça comprometida fosse forçada por algum homem que a encontrasse sozinha. O texto deixa bem claro que a mulher deve gritar pedindo socorro (Deuteronômio 22.24 e 27). Este mandamento determinava a pena de morte para o estuprador, mas não o texto não pode ser usado para defender pena de morte, pois se referia ao tempo da lei, ou seja, anterior à graça de Cristo.

Sobre o estupro de uma virgem

Deuteronômio 22.28,29 “Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.”
Quando um homem abusasse de uma jovem virgem que encontrasse sozinha era obrigado a pagar um alto valor ao pai da moça, além de ser obrigado a se casar com ela sem o direito de se divorciar para sempre. Esta lei buscava responsabilizar o estuprador dando direitos protetivos à moça. Alguns argumentam que pode se referir a homens que tentavam fugir sem pagar o dote ao pai da moça, contudo o texto não indica que seriam comprometidos, visto que este tipo de caso foi regulamentado anteriormente (Deuteronômio 22.23,24).

Profecia do estupro das filhas de Jerusalém

Zacarias 14.2 “Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém; e a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres, forçadas; metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será expulso da cidade”.
Esta profecia anuncia o castigo de Jerusalém por seus pecados, tendo entre os acontecimentos o estupro das mulheres. Esse fato se cumpriu quando Jerusalém foi tomada pela Babilônia em 587 a.C. e como sempre as guerras terminavam com esta cena horrível das mulheres sendo estupradas pelos soldados vencedores após matar seus pais, maridos e filhos. Em momento nenhum o profeta diz que esta seria a vontade de Deus, mas faz um alerta do profeta quanto ao que acontecia a quem desobedecesse a Deus e se o povo perdesse a proteção do Senhor pela desobediência. O profeta Isaías também havia alertado às moças de Jerusalém a não se exporem de forma vaidosa, pois isso poderia atrair olhares inimigos (Isaías 3.16,17).

Os textos citados precisam ser lidos na ótica veterotestamentária, percebendo que os resquícios de machismo ou de qualquer tipo de conformismo nas palavras dos autores podem ser fruto da influência cultural de seu tempo. De forma alguma, em nenhum momento a Bíblia favorece o estupro, mas o condena, relatando os fatos e suas consequências.
A Bíblia condena o estupro!

3- O ensino Cristão a respeito do Estupro

O Novo Testamento não fala abertamente sobre o estupro, mas aborda questões da sexualidade humana, dentre os quais podemos destacar dois textos que podem ser relacionados ao tema.

Jesus ensinou sobre a cobiça no olhar

Mateus 5.27,28 “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.”
O mandamento do Antigo Testamento era tão somente “Não adulterarás” (Êxodo 20.14), mas Jesus dificultou mais ainda, no sentido de mostrar o assunto com mais profundidade, alertando que pelo olhar a pessoa está pecando (Mateus 5.29,30). O olhar obsceno também é um ato de desrespeito ao próximo, considerado como pecado da “concupiscência da carne e a concupiscência dos olhos” (I João 2.16). Isso se torna mais agressivo quando a pessoa é atacada com palavras através de “linguagem obscena” (Colossenses 3.8). Muitas mulheres exibem o seu corpo, mas isso não pode ser desculpa para encará-las de forma indecente. Este tipo de olhar é uma forma de abuso sexual, por não ter o consentimento do outro.

Paulo ensinou sobre o desrespeito ao corpo

I Tessalonicenses 4.3-6 “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é o vingador”.
O apóstolo Paulo ensina claramente sobre a questão da sensualidade para que cada um cuide de seu próprio corpo e não desrespeite o seu próximo, alertando que Deus é o vingador daqueles que são atentados em sua intimidade. Este texto é tão severo quanto a isso, que chama Deus de vingador dos indefesos, clamando a justiça Divina sobre esta causa.

Os cristãos primitivos aprenderam preceitos morais dentre os quais estava o de não praticar “relações sexuais ilícitas” (Atos 15.20,29 e 21.25), o que certamente incluía o estupro. Infelizmente os soldados romanos tinham como costume estuprar mulheres e até mesmo homens por onde passavam, tendo isso legalmente como um “direito de guerra”.1
Como cristãos precisamos pregar contra a prática do estupro, denunciar este tipo de erro e ministrar arrependimento ao estuprador, mas principalmente acolher e cuidar de vidas que foram vítimas deste crime bárbaro que tem afetado milhares de pessoas na sociedade.
O cristianismo ensina contra o estupro!

Estupro é pecado!

CONCLUSÃO

A palavra de Deus fala sobre o pecado em todas as suas formas, mostrando que o pecador precisa se arrepender, confessar e deixar seus erros, mudando para uma nova vida na presença de Deus, através da conversão. O estupro é uma das formas mais violentas de pecado contra o próximo, o que certamente desagrada a Deus.
Se você já foi vítima de estupro, busque ajuda e não se esconda, mas prossiga sua vida, reconstruindo sua história. É seu direito denunciar quem fez isso, para que justiça corrija o estuprador. Mas acima de tudo, saiba que Deus te ama e te consola, garantindo a justiça Divina nesta causa. Abra-se com alguém de confiança e em seguida procure um/a profissional qualificado para um acompanhamento para que não deixe sequelas emocionais ou físicas em sua vida.
Se você já cometeu estupro, seja em qualquer tipo de forma ou intensidade, primeiramente peça perdão a Deus, se arrependendo sinceramente de seu erro. Saiba que você é responsável por este ato e poderá ter consequências do mesmo tanto diante dos homens como diante de Deus. Se possível, busque uma oportunidade para pedir perdão à pessoa que foi violentada, mas também precisa se entregar e confessar para as autoridades a fim de responder por seu crimeE principalmente, nunca mais faça este tipo de coisa, nem mesmo pelo olhar. 

Lute contra o estupro!

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1 CANELA, Kelly Cristina. O estupro no direito romano. São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2012. Página 16.

Rev. Welfany Nolasco Rodrigues

Pastor Metodista, professor e escritor. 44 anos. Casado com Ássima, pai de Heitor e Hadassa. Natural de Muriaé MG. Bacharel em Teologia pela UMESP.

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